CASA CIDADE MUNDO toma arquitetura como arte e arte como (essencial para a) arquitetura. Compreendemos os dois campos como fundamentais na construção do sujeito: o sentido do lugar é determinante para a história do indivíduo.
Partir da CASA para compreender e imaginar a CIDADE e o MUNDO do homem é partir literalmente da origem, do lugar mais íntimo de construção de identidade e troca. Inverter essa direção seria ignorar o indivíduo, massacrar o sujeito, massificar seus desejos. A arte, como espaço de experiência intransferível e única do indivíduo, mas que transcorre no âmbito do coletivo, torna-se nessa lógica instrumento fundamental para, na arquitetura, dar sentido e identidade à ação básica de habitar o mundo. Está implícita na exposição uma crítica à produção arquitetônica que, no Brasil, se deixou dominar pelas determinações do capital, em detrimento das necessidades das pessoas — e mais particularmente à arquitetura chamada de interesse social. Paralelamente, boa parte da produção de arte também prospera submetida às determinações de mercado, distanciando-se de questões que são essenciais para a democratização da cultura e dos bens socioeconômicos, como aquelas ligadas à arquitetura e ao urbanismo. Essa aproximação entre arte e arquitetura, ao pôr em questão os dois campos, propõe uma complementaridade produtiva e conceitual que traga a ambos uma renovação de seus objetivos. Arte e arquitetura devem retomar no Brasil seu entrelaçamento estreito, pois dele depende o desenvolvimento harmônico e sustentável das cidades e, portanto, de seus habitantes. Atualizar tal proposta implica reconhecer a cultura como depositária de instrumentos essenciais de transformação política.
CASA CIDADE MUNDO é uma exposição-manifesto: ela marca o início do projeto A Beleza Possível, que trata fundamentalmente das relações entre arte e arquitetura social no Brasil. Ao longo de 2016, o projeto A Beleza Possível realizará um grande seminário internacional e uma segunda exposição cujo núcleo apresentará projetos arquitetônicos — elaborados especialmente para as condições brasileiras — de alguns dos grandes nomes da arquitetura nacional e internacional. Tratados aqui como artistas e criadores dos espaços do habitat humano, esses arquitetos foram convidados a projetar moradias de custo compatível com as especificidades brasileiras, estabelecendo igualmente diálogo com a cultura e demandas populares do país. A Beleza Possível propõe pensar a arquitetura das cidades como dispositivo fundamental da cultura de um povo em sua transformação e desenvolvimento. Insere-se dentro de uma perspectiva de criação de ações culturais e artísticas que colaborem na mudança do atual panorama urbano brasileiro, dono de grandes problemas que pedem soluções urgentes e inovadoras.
EVANDRO SALLES, CURADOR
Extraído de: <https://www.institutocasa.org/casa-cidade-mundo>